Entrevista: Cláudio Quirino e a realidade da literatura nacional

20 de junho de 2016
 Hoje o Lua Literária traz um convidado muito especial. Pernambucano, autor de romances e suspenses. Um novo amor à vista, um chick-lit, atingiu a lista dos mais vendidos da revista Veja.
Cláudio Quirino bateu um papo comigo sobre a Literatura Nacional. Na entrevista, abordamos os desafios em publicar um livro no Brasil, a questão do preconceito com obras e autores nacionais, bem como o nosso papel, enquanto blogueiros, no incentivo à literatura nacional.



Bia: Como foi sua introdução ao mundo literário? 
Cláudio: Eu sempre fui incentivado pelos meus pais, além de viver em um ambiente cercado por aspirações literárias. Algumas pessoas na família escrevem, mais para extravasar do que profissionalmente. Meu pai é músico e minha mãe é professora primária, então eu sempre estive cercado de livros, de ideias fantásticas e de muita imaginação. Além da minha própria idade, que por si só favorecia criar meus próprios personagens e amigos imaginários, que logo se tornariam personagens rabiscados nos meus cadernos. 

Bia: Um novo amor à vista foi publicado de início na Amazon. Hoje, o encontramos nas principais livrarias, publicado pela Madras Hot, editora de renome. Quais foram os desafios que você enfrentou até conseguir ser publicado e ser vendido?
Cláudio: Um Novo Amor à Vista, como costumo dizer, foi a maior surpresa que me aconteceu. E foi ele quem mudou tudo. Eu não fazia a menor ideia de como seria recebido, porque a ideia de escrever um chick-lit é associada a escritoras e, dificilmente, alguém vivo pode contar que já viu homem escrevendo sobre o universo feminino. Foi um desafio, não posso negar, pois sou autor policial e não entendo absolutamente nada de como a cabeça de vocês, mulheres modernas, funciona. Mas, para o meu completo espanto, o livro deu super certo e está colhendo bons resultados desde então. Mas não foi nada fácil. Tive que conquistar público, divulgar muito, contar com colaboração de amigos muito queridos, que acreditaram demais no meu trabalho. O livro ganhou o coração das pessoas, entrou para a lista dos chick-lits nacionais mais comentados e vendidos, e então a mágica de ser publicado por uma editora que aposta em você aconteceu. E foi maravilhoso. De repente, meus sonhos estavam sendo realizados, sonhos dos quais me orgulho em compartilhar com cada um de vocês. Apesar das conquistas, reconheço que ainda tenho muito a aprender, pois o mercado é muito instável e seletivo. 

Bia: Ser publicado em nosso país é algo difícil. Acredito que um autor tem as mesmas chances de um pré-vestibulando ser aprovado no curso de medicina de uma universidade. É algo conquistado com luta e dedicação. E sabemos que, mesmo assim, as chances para conseguir a obra com o selo de um grande grupo editorial ainda são pequenas. A que você atribui essa realidade? 
Cláudio: Eu queria muito dizer que é fácil, realmente simples, como erguer uma varinha de condão e, touché, a sua vida está repleta de sonhos realizados. Mas a vida de quem está começando na literatura nunca é fácil. É cheia de curvas, desníveis e de preparação. A lógica editorial é a de uma empresa qualquer, que busca, além de obter lucro, firmar-se como grande destaque no mercado, tornando-se sempre atrativa. É exponencial o modo como diariamente buscamos ser reconhecidos pelo trabalho que desenvolvemos. Raros, muito raros, infelizmente, são os casos em que conseguimos chegar à porta de grandes editoras (tradicionais, com mercado de leitores garantidos). As editoras assim, apesar das mudanças e do espaço que estão abrindo para autores nacionais, sempre buscam, no autor, qualquer que seja ele, características que agregarão valor à linha editorial e experiência de leitura agradável. Esses são os passos importantes para conquistar seu público. 

Bia: Nossas obras, mesmo os clássicos, sofrem muito preconceito por parte dos leitores. Existe aquele conceito de que “nacional é chato”. E, ainda em meu conceito, vejo esse preconceito até mesmo por parte das Editoras. Acredita que o preconceito pode ser um empecilho que impede com que nossos autores tenham reconhecimento?
Cláudio: Sinceramente, apesar de encontrar um e outro por aí, em minhas andanças virtuais, eu acho que isso não é mais uma realidade tão assombrosa quanto antes. Hoje em dia, eu percebo uma torrente de amor e valorização pela Literatura Nacional. Os leitores estão bem mais receptivos ao que nós escrevemos, porque eles perceberam potencial que há em muitos autores. O mercado literário está repleto de grandes nomes, de pessoas que sempre nos inspiram positivamente, pessoas em que nos espelhamos e nos orgulhamos, e nos orgulhamos muito, a ponto de transformarmos cada um deles em nossos heróis e heroínas. 

Bia: Você é um autor que foge dos estereótipos. É homem, hétero, que publicou um chick-lit. Ainda partindo do ponto do preconceito literário, enxergou algum tipo de resistência por parte dos leitores para ser lido? E por parte das Editoras?
Cláudio: A minha experiência com o chick-lit, assim como o processo de construção criativa, foi divertidíssimo. Você consegue imaginar o meu martírio tentando entender sobre grifes, moda, combinações possíveis? Eu passava horas e horas estudando sobre isso, e, ainda assim, acho que pequei em muitos aspectos, mas acho que podem ser relevadas, afinal sou somente um homem metido a conhecedor do universo feminino. Os leitores, quase em sua maioria formados por mulheres que amam o gênero, ficaram assombrados, um misto de curiosidade e espanto. Muitos diziam que entender tanto não era possível para um homem, que eu deveria ser uma mulher usando pseudônimo de Cláudio Quirino. Um dia de domingo qualquer, reuni algumas leitoras e liguei a webcam, para mostrar que, sim, era o Cláudio Quirino, um homem, que havia realmente escrito um livro sobre elas. O espanto foi ainda maior, depois caímos todos na risada. No fundo, no fundo, o fato de quebrar o estereótipo acabou sendo um diferencial para a publicação do livro.

Bia: Temos autores que conseguiram reconhecimento. Camila Moreira, Raphael Montes, André Vianco, enfim, são muitos nomes que ganharam popularidade. Mas sabemos que, mesmo com obras de sucesso, que estampam até mesmo programas globais; esses autores ainda precisam trabalhar muito para ter novo livro publicado. Parece um círculo vicioso não é? Com base nesse fato, acredita que existe esperança para um autor do segmento nacional viver de seu trabalho?
Cláudio: Escrever é muito mais do que uma arte. É sempre um ciclo, uma tarefa interminável, que está constantemente se transformando e sendo inovada. Não importa se você está só começando ou se o seu nome está estampado nos holofotes da mídia, independente disso ou de qualquer prestígio, você está sempre sujeito às mudanças que acontecem. O trabalho de escritor precisa ser lapidado. Você precisa sempre estudar, mais e mais, na medida em que puder. São pouquíssimos os casos, pelo menos os que conheço ou ouvi falar, de autores que fazem da arte escrever uma fonte de sobrevivências. Mas existem, sim, pode acreditar. Se é possível para eles... que se empenharam e continuam fazendo isso tanto quanto outros, por que não? 

Bia: Eu disse no início que ser publicado é algo trabalhoso. Mas ser vendido também é, e muito. Outro dia, um autor denunciou uma máfia de outros autores que compram suas próprias obras na Amazon. Funciona mais ou menos assim: eles publicam um livro e o compram em e-book para que aumente a popularidade no site. Você não vê avaliações, tão pouco resenhas da obra, e nem mesmo divulgações. Mas ela estampa a lista de mais vendidos, superando até mesmo lendas do gênero. Sabemos que muitos grupos editorias publicam obras baseando-se em seu número de vendas no site. Você acha que vale tudo para conseguir uma publicação? 
Cláudio: É a velha lenda de estar sempre sendo lembrado. Se você é lembrado, você tem maiores chances de que uma editora se interesse pelo seu trabalho. De fato, existem tentativas e mais tentativas do tipo, realizadas por alguns autores, que desafiam a lógica. Mas acho que essa é uma estratégia deles, não os culpo, sinceramente, mas não penso que essa é a melhor alternativa, ainda mais num espaço onde somos observados. Acredito que ser publicado é mais do que isso, é você superar seus limites, é você cativar as pessoas com a simplicidade das ideias, de emocioná-las com a verdade do seu coração. Isso é muito mais efetivo, pode certamente acreditar, do que recorrer a determinadas atitudes, por mais fundamentadas que elas sejam.

Bia: Quem te acompanha pelo facebook, vê o quanto você incentiva o trabalho de outros autores. Sempre compartilhando leituras, novos trabalhos, enfim, é realmente fabulosa a iniciativa de ajudar o próximo; e, um grande diferencial, sem exigir nada em troca. É raro vermos essa atitude, principalmente entre os autores que já estão num patamar mais elevado, digamos assim. E claro, tem um resultado positivo. A classe de autores precisa de mais união? 
Cláudio: Eu acredito no poder da união e dos resultados que pode proporcionar, quando você faz isso de coração, pelo simples prazer de ser útil e de buscar contribuir com o sonho de alguém que, assim como você, enfrentou mesmos obstáculos, passou pelos mesmos caminhos, teve as mesmas dúvidas, enfim. É maravilhoso poder fazer isso pelas pessoas e receber de volta um agradecimento pelo que você está fazendo. A classe de autores, sim, precisa de mais união. Falta muito para fazer disso uma corrente enorme de amor e de fazer o bem ao próximo. Há, por incrível que possa parecer, egoísmo e estrelismo por parte de alguns, mas há quem se empenha em fazer o contrário, em mostrar como o simples hábito de colaborar é maravilhoso. 

Bia: Adoro perguntar isso. Qual o papel do blogueiro no incentivo da literatura nacional? 
Cláudio: Ah, meu Deus, tenho tanto a falar sobre vocês, que passaria horas e horas, esboçando agradecimentos extraordinários. Sem dúvida, inegavelmente, nada do que realizei, que conquistei e qualquer coisa que tenha construído seria possível sem a colaboração e o apoio fabuloso dos blogueiros. Tenho uma relação muito amigável, também cúmplice e de reconhecimento com meus parceiros, assim como os demais. Eu valorizo o trabalho que desenvolvem, acho fantástica a maneira como conciliam as atividades da rotina e, mesmo assim, dedicam sempre tanto amor ao que desenvolvemos. Agradeço sempre a Deus por colocar pessoas tão incríveis no meu caminho. Eu não seria nada, sem ajuda e comprometimento dessas pessoas. 

Bia: Eu confesso que fico revoltada ao ver incentivo por parte das editoras e até mesmo blogueiros, por obras como: biografia de youtubers de 15 anos, ídolos teens; livros com assinaturas de celebridades ganhando destaque pelo nome que assinou e não pelo conteúdo que apresenta; Bruna Surfistinha sendo considerada autora de renome. Não quero te colocar em meio à polêmica, não corra da entrevista. Mas, de uma forma bem ampla, você enxerga algum ponto positivo na publicação de obras seguindo essa linha que citei logo acima? 
Cláudio: Vivemos em um mundo onde as oportunidades estão distribuídas para todas as pessoas, em qualquer aspecto da vida. Tanto quanto qualquer um, essas pessoas incentivadas e estimuladas pela mídia, que hoje define muitos caminhos, têm a possibilidade de ter um livro publicado e de levar um pouco de sua história aos leitores que os seguem. Mas o grande problema é a acessibilidade e preferência pelas grandes editoras, que buscam, conforme comentei acima, aproveitar a fama e sucesso para diversificar seu mercado. Há grande investimento em divulgação, mobilização enorme, coisa que não é vista em relação a um autor nacional sem o mesmo reconhecimento da mídia. Infelizmente, um acesso a editoras tradicionais é muito escasso, sem dúvida, e isso desestimula demais a continuidade de muitos autores, que não chegam a alcançar o mesmo patamar. Eu não penso que autores de mídia devam ser proibidos de publicar, que apresentam conteúdo aquém do que se deve, pelo fato do direito de informação, mas discordo completamente da maneira como as editoras, em detrimento deles, eliminam as possibilidade de vários autores, com potencial extraordinário, de publicar e divulgar um livro. 

Rapidinhas:

Bia: Um(a) autor(a) nacional que merece ser publicado?
Cláudio: Pergunta difícil, essa. Tenho contato com inúmeros autores em quem vejo imenso potencial de ser publicado. São muitos, de modo que fica meio complicado citar alguns. Eu acho que, pelo simples ato de escrever um livro, que não é tão fácil, qualquer pessoa deveria publicar.


Bia: Uma obra nacional que merecia estar entre as mais vendidas? 
Cláudio: Várias. O pessoal que está começando tem apresentado ideias maravilhosas, originais e de muita capacidade. 


Bia: Um livro nacional de cabeceira?
Cláudio: Os livros do escritor José de Alencar, são, em geral, os meus favoritos.


Bia: Ser autor nacional é... 
Cláudio: Enfrentar muitos desafios, mostrar as pessoas que acreditam em você que nada é um obstáculo para o seu sonho. 


Bia: Uma dica para os autores iniciantes:
Cláudio: Por mais difícil que possa parecer, continue em busca, e isso chegará naturalmente até você. Estude bastante, leia e não perca o ânimo. O Universo recompensa os sonhadores que sabem o momento e a medida de agir.

Encontre o Autor:


 Agradecemos toda a atenção do Cláudio, e o carinho com que respondeu à nossa entrevista. Volte sempre, o Lua é sua casa também ♥

 Espero que tenham gostado, e caso seja autor iniciante ou pretende se tornar um, siga as dicas do Cláudio. 
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 Beijos



Post por: Bia Gonçalves
Sua maior paixão são os livros que lhe fazem viajar. Odeia mesmices, por isso adora se aventurar nas páginas de uma boa fantasia e se prender a um terror daqueles de parar o coração.
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2 comentários:

  1. Oi, Bia! Muito legal a entrevista! Ser autor por aqui não é fácil mesmo... Temos mais é que valorizar e divulgar o que de bom é produzido por nossos autores.

    Beijos, Entre Aspas

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    1. Oi Carla! Eu sou suspeita, mas amei o resultado dessa entrevista.
      Concordo plenamente com sua opinião, nossa literatura precisa ser divulgada. Temos tantas obras excelentes, que passam despercebidas pelo simples fato de não haver muita divulgação.
      Beeijos

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